São Paulo, 23 de maio de 2015.
Lembro-me...
que acordar cedo não era um problema para mim
nesta época, o tempo em que eu era criança não tinha muitos afazeres, então
tinha muito tempo para gastar dentro do grande galpão que ficava no fundo do
quintal de nossa casa ainda em construção, lá já tínhamos três quatros sala que
mais a frente se tornaria a cozinha de fogão a gás, pois a cozinha de fogão a
lenha ficava separada do restante da casa e dentro havia um pequeno banheiro
onde nosso banho era preparado com a água retirada do pote que fazia parte do
fogão e por isso a água estava sempre quente, bastava coloca-la no chuveiro
feito de balde, criação de papai.
No galpão havia grandes baús de ferro parecidos
com aqueles dos navios piratas e dentro tinha de tudo um pouco, peças antigas
que aguçavam muito minha curiosidade.
Livros feitos a mão com palavras e símbolos totalmente
desconhecidos por mim, mas que me chamavam muito a atenção.
Costumava brincar por horas com aquela balança
e seus pequeninos pesinhos que serviam para pesar ouro. Papai dentre outras
profissões também era OURIVES.
Eram muitas antiguidades, pistolas de dois canos
umas pequenas outras grandes com cabos decorados que pareciam bordados de renda,
bússolas banhadas a ouro, relógios de bolso banhados a ouro, aros de óculos de
mão de vários tipos, possuía também muitas moedas de diferentes lugares principalmente
de Portugal, medalhões com imagens muito atrativas, mas nada se comparava com a
bolsinha.
A bolsinha verde que sempre era a causadora de
grandes broncas, pois lá dentro havia PÓ DE OURO.
Meu Deus como é lindo!
Dentro tinha pequenas peças finas quebradas,
eram partes de brincos, correntes e pulseiras de ouro, que eram para papai
derreter, estava tudo sujo de pó de ouro tinha um brilho fino hipnotizante.
Era proibido pegar aquela bolsa para brincar,
papai sempre dizia:
Não mexa naquela bolsinha porque se sujar a
mão de ouro e passar no olho fica cego para sempre. Ele não nos batia, mas
fazia com que mamãe batesse ai depois se arrependia queria nos defender, mas já
era tarde demais.
Mão suja de ouro...
O couro vai comer.
O exímio aurífece
Agora está na hora
Dos finos fios entrelaçar
O exímio aurífece
Já na terra fostes ficar.
Suas sementes ainda choram
E o seu nome faz ecoar
Narcizio Andrade Gomes
És como ouro ainda se faz
brilhar.
As tuas palavras não morreram
Teus ensinamentos
Se forjaram
E eu, a tua filha poeta
Com minhas letras faço-lhe a
promessa.
De que jamais te esqueceram.
Enide Santos 23/05/15